Sustentabilidade Corporativa na prática - 15 anos em 6 aprendizados essenciais
Postado 24/05/2017
Desde que eu comecei a trabalhar com Sustentabilidade, como em toda profissão, aprendi algumas lições que não estavam escritas nos livros, nem foram ditas por nenhum professor. Gostaria de compartilhar com você algumas destas experiências que foram conquistadas errando, acertando, quebrando a cabeça e que talvez possam te ajudar de alguma forma na sua jornada para o sucesso.
1. Se a liderança não estiver realmente interessada no tema, nem comece. Mesmo sabendo que determinado projeto trará retornos excelentes para a empresa, se a liderança não está engajada na ideia não comece nada! Antes de iniciar qualquer projeto, garanta o engajamento efetivo de toda a liderança-chave. Gaste sua energia mostrando a importância do tema, os benefícios da proposta e o retorno para a organização. Se apesar de tudo a proposta não foi para frente, foque em projetos que estejam perfeitamente alinhados com as expectativas da empresa naquele momento e, é claro, com o seu propósito. Caso você identifique que as suas expectativas, crenças e certezas não estão alinhadas às da empresa para qual você trabalha, talvez seja a hora de buscar novos desafios. Estes aprendizados podem ajudar a evitar a frustração, a interrupção de projetos e a perda de tempo: sua e a da organização.
2. Não confunda gestão da sustentabilidade com gestão ambiental! Ao longo da minha vida profissional me deparei com vários profissionais que diziam trabalhar com “sustentabilidade” quando, na verdade, seu foco era exclusivamente ambiental. Ou seja, não integravam as questões sociais, as econômicas e as ambientais (o famoso triple bottom line ou, os 3 “P”s em inglês people, profit, planet). Em alguns momentos, sim, a instituição necessitará de um profissional de meio ambiente específico. Apenas não se esqueça de que tratam-se de áreas complementares, mas com atuação diferente. Na prática isso significa que, se você trabalha com Sustentabilidade, não adianta fazer um projeto de impacto ambiental robusto e esquecer que ele precisa estar alinhado com as necessidades das pessoas e também com o core business da sua organização. Exemplo: um banco desenvolve um projeto de microcrédito, que considera premissas socioambientais para ceder o crédito e gera valor compartilhado utilizando para isso toda a sua expertise única no tema. Isso não só retrata um perfeito alinhamento entre os 3 P´s, como promove o valor compartihado na forma de fortalecimento reputacional, retorno financeiro para o banco, geração de renda e melhoria da qualidade de vida para seus clientes, além de promover amplos impactos positivos para a sociedade e o meio ambiente. Isso não significa que outros projetos que um banco porventura possa investir não sejam importantes, mas o ponto aqui é, no caso deste exemplo, utilizar o conhecimento que só uma instituição bancária oferece para causar efetivamente um grande impacto positivo na sociedade para além da atuação ambiental.
3. Respeite o grau de maturidade da sua instituição. Existem diversos autores que mostram a “escala de maturidade” das organizações em relação à sustentabilidade. No entanto, muitas vezes incorremos no erro de não respeitar o momento que a corporação está vivendo. Não adianta exigir uma inovação maravilhosa para uma empresa que não tem nem a base da sustentabilidade organizada. Neste sentido, minha visão é de uma pirâmide, onde, na base, ou no degrau inicial, está o atendimento da legislação, em seguida, a redução de impactos negativos ou redução da pegada ecológica (footprint), em terceiro lugar a ampliação dos impactos positivos (handprint) e, no topo, a geração de valor compartilhado. Muitas organizações precisam primeiro atender integralmente à legislação, para posteriormente trabalhar os próximos passos. Assim, apesar de ser tentador, não adianta pensar em Relatório de Sustentabilidade, gestão da Cadeia de Valor, Matriz de Materialidade, Análise de Ciclo de Vida, e tantas outras ferramentas incríveis, antes de fazer a lição de casa. Caso contrário, você cai na armadilha de pregar algo que nem a própria organização promove, sendo, além de anti ético, um sério risco reputacional.
4. Sustentabilidade precisa gerar valor para a organização, não só para a sociedade e para o meio ambiente. Sabe por que a reciclagem no Brasil e no mundo estão em um movimento crescente? Não se trata de uma sensibilização ambiental por parte dos consumidores, das empresas ou do governo, mas porque se transformou em uma negócio que gera renda e traz valor para as pessoas envolvidas. Veja - para citar um exemplo - os programas de coleta seletiva mais bem-sucedidos mundialmente são aqueles que trazem benefícios aos responsáveis pela coleta dos materiais (cooperativas, catadores ou empresas especializadas) e à indústria que utiliza o material como matéria-prima do seu processo produtivo, mas que também traz benefícios aos consumidores, seja pontos, valor monetário, troca por outros produtos ou serviços, etc. Neste sentido, eu acredito que, no atual modelo que vivemos, Sustentabilidade será um driver por si só a partir do momento em que traz valor compartilhado para todos os envolvidos. Difícil, mas não impossível. Para tanto, é essencial que você conheça profundamente o negócio e a cadeia de valor da sua organização.
5. Não vacile, utilize o processo de elaboração do Relatório de Sustentabilidade como uma ferramenta de gestão. Mais do que uma compilação de informações que divulgam as melhores práticas da empresa, o documento e o processo para a elaboração do Relatório de Sustentabilidade podem trazer melhorias expressivas para a organização quando bem utilizados. Acompanhamento histórico da evolução da empresa, estabelecimento de metas para os indicadores, melhoria da performance, suporte ao planejamento do orçamento, fortalecimento do diálogo com stakeholders, incentivo às discussões e engajamento de todas as áreas corporativas, estes são só alguns exemplos do uso estratégico desta importante ferramenta. Deixá-la “na gaveta” após a sua elaboração é um grande erro! Use todo o conhecimento adquirido sem moderação.
6. Mantenha contato constante com seus stakeholders. Quando bem mapeados eles apontam os seus acertos, oportunidades (inclusive de negócios), pontos cegos, riscos e tendências. Eu costumo falar que o engajamento envolve 3 “R”s cruciais: Relacionamento, Regularidade e Resposta. Sem uma destas três não existe o processo de engajamento efetivo. Você precisa ter um relacionamento - entendido aqui como a arte de comunicar e conviver - com o seu público; precisa que o mesmo seja regular - caso contrário, o relacionamento entre vocês enfraquece - e precisa garantir que haja uma resposta, ou seja, que seja uma via de mão dupla, com reciprocidade, propiciando um rico diálogo. Para garantir um relacionamento duradouro, não se esqueça que os 3 Rs devem estar ancorados nos princípios da transparência e da confiança.
É claro que existem muitos outros aprendizados que pretendo compartilhar, mas estes são alguns dos que considero fundamentais para você que quer ter sucesso trabalhando na área de Sustentabilidade Corporativa. Outros conhecimentos virão e será uma honra poder continuar esta conversa!
Bem, esta é a minha experiência. Mas eu gostaria de conhecer a sua. Quais são, na sua opinião, os aspectos mais importantes para um trabalho de sustentabilidade bem sucedido? Compartilhe aqui seus comentários ou, se preferir, por mensagem privada. É trocando experiências que a gente se desenvolve!
Grande abraço!
Fonte: Juliana Zellauy Feres
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