STARTUP EVITA QUE TONELADAS DE PRODUTOS NOVOS SEJAM DESCARTADOS
Postado 01/06/2020
Mesmo que 75% das indústrias brasileiras use mecanismos para tentar evitar o desperdício, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), frequentemente toneladas de produtos são jogados fora. E, quase sempre, o produto não é descartado por estar estragado ou com algum problema sanitário. Quando um produto é acidentalmente fabricado fora do padrão da embalagem, não pode ser vendido em sua embalagem tradicional.
Um empresário que trabalhou no setor financeiro identificou este problema e decidiu criar em 2016 a Xprajá, startup especializada em recolocar produtos de bens de consumo como: alimentos, produtos de limpeza e higiene, nas prateleiras dos supermercados ou em grandes cozinhas industriais. Na prática, em vez de serem jogados no lixo, os produtos são vendidos a um valor que pode ser até 75% mais barato.
Segundo Alves, a indústria joga no lixo, todos os anos, 100 bilhões de reais em produtos, correspondendo a aproximadamente 3% a 4% do faturamento da indústria. Com a solução da Xprajá, a estimativa é que esse desperdício caia para 1% ou 2% do faturamento.
No varejo, esses produtos são vendidos com o que o mercado chama de embalagem “branca”. Isto é, o consumidor precisa ser comunicado de que aquele produto está fora do padrão e foi recolocado.
Há exemplos clássicos na indústria onde ocorre esse problema. Na indústria de alimentos congelados, um terço dos alimentos não saem da linha de produção com o peso exato. Neste caso, o processo chamado de “reindustrialização”, ou seja, tirar o conteúdo da embalagem e devolvê-lo à linha de produção para atingir o peso ideal, seria muito caro e inviável financeiramente em larga escala. É aí que entra o serviço da Xprajá, que ajuda a indústria a vender, em uma embalagem neutra, o pacote com menor peso.
Com pouco mais de três anos de operação, a empresa tem ao todo mais de 300 clientes em 16 estados brasileiros. São quase 20 indústrias de grande porte vendendo por meio da plataforma, entre elas a fabricante de bebidas Coca-Cola, a Unilever, de bens de consumo, e a Casa Suíça, de produtos de confeitaria.
Na outra ponta da cadeia, há 300 varejistas conectados à plataforma para comprar os produtos e 100 empresas no segmento de cozinhas industriais, que também trabalham com pedidos em larga escala e conseguem aproveitar o material da indústria.
Da linha de produção ao supermercado
Além das embalagens brancas, também podem ser recolocados produtos que não estão fora do padrão, mas próximos da data de vencimento. Esse tipo de produto é então vendido a preços menores, para saírem rapidamente. Outro foco é em produtos descontinuados, ou seja, que as companhias lançaram mas desistiram de continuar vendendo. Após o Natal do ano passado, por exemplo, a plataforma da Xprajá conseguiu recolocar 1 milhão de unidades de panetone que saíram um pouco do padrão de peso.
A Xprajá não faz diretamente compra e venda dos produtos. Na prática, é apenas uma plataforma que conecta potenciais compradores aos produtos da indústria.
Em 2018, segundo ano completo de operação, o valor transacionado na Xprajá foi de 8 milhões de reais. No ano passado, o montante subiu para 90 milhões de reais. A expectativa é que, para este ano, o ritmo de crescimento continue. A empresa tem hoje 16 funcionários, parte em São Paulo e parte em Lavras, em Minas Gerais.
Os desafios do coronavírus
O serviço da Xprajá vem sendo especialmente demandado em meio à crise do coronavírus. Desde o começo da crise, a Xprajá vem sendo procurada porque, com a alta demanda no começo da pandemia, as empresas precisaram aumentar a produção, mas nem tudo deve ser vendido. Desde 20 de março, a empresa já recolocou no mercado mais de 10 milhões de itens. É uma alta de 550% em relação ao mesmo período do ano passado.
Alves aponta que, na epidemia de H1N1, em 2009, a indústria brasileira acelerou a produção de repelente. Passada a crise, sobraram 60 milhões de reais em produtos. “Isso vai acontecer com bens de consumo novamente, como produtos de higiene”, diz.
Um campeão de demanda na Xprajá nas últimas semanas foram as fabricantes de chocolate, outra consequência direta da pandemia. “Os ovos de Páscoa já tinham sido fabricados mas não puderam ser vendidos no mesmo ritmo com as lojas fechadas. A saída é recolocar para que não estraguem”, diz Alves. Uma fabricante de chocolates fez uma parceria com a Xprajá para recolocar 60 toneladas de ovos de Páscoa.
Com o movimento do varejo caindo e as projeções de recessão e aumento do desemprego no Brasil, a tendência é que os consumidores também passem a comprar produtos mais baratos. Alves diz que fabricantes vêm procurando a Xprajá tentando se antecipar a este movimento
Se depender da Xprajá, o desperdício na cadeia de produção brasileira será cada vez menor. Ganha a indústria, o varejo, os consumidores e o meio-ambiente.
Fonte: Carolina Riveira - Exame
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