Na Ambipar, crédito de carbono dá escala a reflorestamento da Mata Atlântica
Postado 03/03/2023
Na região do Pontal do Paranapanema, projeto terá duração de 30 anos e prevê o replantio de 75 mil hectares até 2040, atravessando 30 municípios
O Brasil vive um boom de negócios de reflorestamento para sequestro de carbono, com uma série de novas empresas surgindo e investidores e empresas de peso envolvidos. Em comum, todos ainda terão que se provar e superar os desafios de execução para escalar a atividade.
Em meio a esse cenário, um projeto para recompor um trecho de Mata Atlântica no Estado de São Paulo já tem resultados a apresentar. Desenvolvido pela Biofílica Ambipar em parceria com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), o projeto Corredores de Vida já recuperou 2 mil hectares de vegetação nativa com o plantio de mais de 4 milhões de árvores, na região do Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste paulista.
Maior caso de restauro do país até hoje, o projeto não é novo. Nasceu há 17 anos pelas mãos do instituto IPÊ e até hoje andou com recursos filantrópicos.
A novidade é que, desde 2021, a Biofílica Ambipar se juntou a ele para criar uma nova equação financeira.
“O que estamos fazendo é gerar créditos de carbono para financiar e dar escala ao reflorestamento”, diz Plínio Ribeiro, CEO da Biofílica Ambipar. “A filantropia pode ser uma fonte complicada de recursos, em valores às vezes pequenos e de fluxo instável. Esse sempre foi um grande drama para financiar as florestas. E essa é a grande sacada da economia do crédito de carbono.”
A Biofílica, comprada em julho de 2021 pela Ambipar, é uma das pioneiras no Brasil na gestão de projetos de carbono florestal, até aqui com foco em preservação e não restauro.
O projeto todo terá duração de 30 anos e prevê o replantio de 75 mil hectares de Mata Atlântica até 2040, atravessando 30 municípios.
Nos projetos de desmatamento evitado, a venda dos créditos quase sempre acontece no mercado ‘spot’, ou seja, depois da verificação de cada safra de carbono pelo organismo competente. Aqui, o modelo é outro. A venda é antecipada e acontece a um preço fixo, que cobre o custo do plantio e trato das mudas até a pega, além da margem da Biofílica Ambipar.
À medida que a vegetação cresce, começam as verificações para ‘colher’ as safras de carbono. O cliente passa a receber os créditos e pode vendê-los ou então usá-los (ou, como se diz no setor, aposentá-los, tirando-os de circulação) para compensar suas emissões.
Os 75 mil hectares devem gerar 30 milhões de toneladas de CO2 ao longo de toda a duração do projeto. “É grande, mas não equivale nem a dois anos de compensação das emissões de uma empresa como a Vale”, diz Ribeiro.
Nessa nova fase, até agora foram plantados 1000 hectares, com créditos totalmente vendidos para o Mercado Livre, e a primeira safra deve acontecer entre este ano e o próximo.
Ribeiro diz que os créditos têm sido vendidos por US$ 30 a tonelada, ante cerca de US$ 15 dos créditos do tipo REDD+, gerados por projetos de desmatamento evitado.
“O restauro é caro, muito intensivo em capital, infinitamente mais que a proteção da floresta”, diz Ribeiro.
Agora a empresa está estruturando a venda dos créditos para financiar o plantio dos próximos 5 mil a 7 mil hectares.
“Estamos fatiando o projeto e entendendo a dinâmica para poder acelerar. É uma atividade que ninguém fez ainda em escala, não existe uma cadeia de fornecedores estabelecida, não existem linhas de financiamento. É uma indústria em que todas as pontas ainda estão soltas.”
O Corredores de Vida, que no fim do ano foi eleito o melhor projeto individual de offsets de carbono de 2022 pela publicação Environmental Finance, funciona também como um laboratório para novos projetos de carbono de reflorestamento que a Ambipar pretende desenvolver. Atualmente há outros três em estudo.
A lógica do corredor
Com a ocupação do Oeste paulista por produtores rurais, o desmatamento deixou inúmeros fragmentos de Mata Atlântica espalhados pela região. Reflorestar tudo não é uma opção, já que se trata de uma área de intensa produção agrícola.
A lógica é unir esses fragmentos e criar um corredor de vegetação. “Quanto maior o fragmento, maior a diversidade biológica de espécies e a interação entre elas.” Ao mesmo tempo, a prioridade é restaurar as áreas perto dos rios, o que ajuda a proteger os recursos hídricos e pode gerar créditos de maior valor.
A maioria dos projetos de reflorestamento que estão surgindo pretende fazer o plantio em uma única propriedade de grande escala. “Aqui estamos falando de centenas de propriedades envolvidas.”
Há muitas propriedades que não cumprem as exigências do Código Florestal, de manutenção de um mínimo de 20% de vegetação nativa, no caso do bioma da Mata Atlântica, ou de manutenção de Áreas de Proteção Permanente (APPs) em torno dos rios. E a Biofílica Ambipar entra oferecendo uma solução para o problema.
Estabelecido numa região que ficou conhecida pelos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, o projeto também tem gerado emprego para os fillhos das famílias assentadas, que trabalham no plantio e manutenção das árvores, diz Ribeiro.
Os anos de experiência do IPÊ com a atividade naquela região representam uma vantagem, diz ele. “A diferença de outros projetos de reflorestamento em outras regiões é que já existe muita ciência sendo produzida sobre o acúmulo de carbono nessas florestas.”
Quando partem do zero, os projetos geralmente não têm o que medir para estimar qual será a curva de sequestro de carbono pelas plantas ao longo do tempo. É preciso se basear em estudos feitos em outros lugares e em dados secundários para fazer as projeções embarcadas nos planos de negócio.
“Aqui, para chegar na curva de carbono, nós pegamos a floresta recuperada, cortamos pedaços, pesamos, medimos o CO2 acumulado efetivamente.”
Os cálculos feitos foram submetidos ao Verra, a principal certificadora de créditos de carbono, e aguardam a validação.
FONTE: www.capitalreset.com
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