Mesmo material com novo produto: consumidores ganham mais possibilidades com embalagens diversificadas para bebidas
Postado 12/09/2024
Produtos que tradicionalmente são conhecidos em outros recipientes passam a aparecer em latinhas de alumínio. Uma vinícola de Guaporé, por exemplo, vende vinho e espumante com este formato. Da mesma forma, há empresas, como a Salton, de Bento Gonçalves, que trabalham em busca de recipientes cada vez mais sustentáveis
Basta andar pelos corredores de bebidas nos mercados de Caxias do Sul e da Serra para notar a diversidade de produtos. São vinhos, cervejas, espumantes, refrigerantes (com ou sem açúcar), água com gás, água sem gás, sucos, chás, kombuchas, entre outras opções. O que anda chamando atenção também é o que dá o primeiro contato com o consumidor: a embalagem. Ao mesmo tempo em que aumentaram as possibilidades de escolhas para consumo, visivelmente as mercadorias vêm distribuídas em mais formatos. Por exemplo, vinho, espumante e água na latinha de alumínio, ou a cerveja em um recipiente PET.
Os dois materiais, inclusive, são vastamente utilizados na indústria de bebidas. De acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), em 2023 foram comercializadas 32,3 bilhões de latas no Brasil. Enquanto isso, segundo a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), o país tem capacidade instalada para produção de 1 milhão de toneladas ao ano de resina virgem — ou seja, o PET puro. Essa demanda é suficiente para abastecer a América do Sul, conforme a entidade.
Panorama
Segundo o diretor-executivo da Robopac Brasil, Judenor Marchioro, apesar da diversidade, a tendência não é de que o PET perca espaço. A empresa atua na mercado com distribuição de tecnologia para envasamento, empacotamento, encaixotamento, paletização e outras soluções relacionadas. Marchioro analisa que esse material ainda será bastante visto e utilizado na indústria de bebidas. Um dos fatores citados pelo especialista é o menor custo de produção em quantidade.
— Geralmente, o PET é mais barato de produzir em grandes quantidades devido ao menor custo da matéria-prima (resina PET) e à simplicidade do processo de fabricação. É leve, fácil de transportar e reciclar, embora a taxa de reciclagem ainda seja relativamente baixa em alguns lugares — explica Marchioro.
Segundo a Abipet, a taxa de reciclagem no Brasil é de 54,6%. Em 2023, mais de 12 bilhões de garrafas PET foram recicladas.
O diretor-executivo nota ainda que, apesar do alumínio ter um custo de produção mais alto, o material tem taxa maior de reciclagem e há um valor agregado que o consumidor pode notar. A latinha passa por mais etapas de produção, como laminação, moldagem e revestimento.
— O alumínio tem uma taxa de reciclagem mais alta e é mais valorizado nos mercados de reciclagem, além de proporcionar uma melhor proteção contra luz e oxigênio, o que pode conservar melhor o produto — detalha Marchioro.
Já conforme a Abralatas, a taxa de reciclagem das latas de alumínio alcança o índice de 95%.
O que é visto, com certeza, é que cada material tem as suas características e o seu espaço da indústria.
— Em resumo, a garrafa PET é geralmente a opção mais econômica, mas a lata de alumínio pode ser escolhida por razões de sustentabilidade e percepção de qualidade superior, apesar do maior custo — conclui o especialista.
Crescimento e mais uma opção
O presidente-executivo da Abralatas, Cátilo Cândido, afirma que, de fato, há um crescimento no uso da lata de alumínio. De 2022 para o ano passado, o aumento foi de 1,65%. Já na última década, a média é de 4,5%. A entidade também nota o aumento das embalagens de alumínio em mais de 20 bebidas. Para Cândido, o crescimento é uma prova de que o "brasileiro ama a lata de alumínio". O presidente da associação descreve ainda que além de ser sustentável, a latinha facilita o transporte e a armazenagem.
Mas, como destaca Cândido, o objetivo é dar mais uma opção aos consumidores, como no caso do setor do vinho, por exemplo:
— Não queremos competir com o vidro que é uma embalagem milenar e faz parte da cultura do vinho. Mas, queremos, sim, somar oferecendo mais uma opção para o consumidor. A lata é ideal para o consumo individual, especialmente em eventos, shows, jogos de futebol, espetáculos, na praia ou na piscina. É segura, prática, leve e ainda gela mais rápido.
Linha de vinho em lata
As possibilidades de diferentes embalagens também trazem ideias inovadoras. Em 2017, a Vinícola Giaretta, de Guaporé, lançou a linha OvniH. Joacir Giaretta, um dos proprietários, diz que é o primeiro espumante em lata do Brasil. A ideia era ter um espumante com lúpulo da cerveja, em parceria com uma cervejaria. Os testes foram ficando para depois e o que surgiu, no fim das contas, foi a linha.
— O que aconteceu foi o crescimento do segmento, do segmento de vinho na lata, porque outras marcas foram surgindo. E dentre outras marcas, muitas que nós acabamos ajudando a criar, com uma terceirização, tendo o vinho nosso ou não. Chamamos de terceirização quando o vinho é nosso ou se somos simplesmente o envasador — explica Giaretta.
Para lançar o produto, a vinícola estudou qual seria o melhor tipo de lata para a bebida. Giaretta vê que esse tipo de embalagem também dá mais possibilidades ao consumidor, como mais facilidade no transporte para um passeio, como na praia, e até mesmo a forma de consumo, já que são recipientes de 269ml.
Além da OvniH, a vinícola trabalha com os vinhos chardonnay, rosé e cabernet/merlot em lata. Mesmo assim, a Giaretta, claro, segue trabalhando com as embalagens tradicionais de vinhos e espumantes, em vidro.
Essa experiência com o envase e a busca por mais conhecimento na área também faz com que a vinícola atenda sócios e outras empresas para envasamento, com produtos como chás, energéticos e kombuchas. E dentro das possibilidades, surgiu até outra inovação: espumante em barril de chope.
— Tem uma inovação, como a lata foi inovadora, um dos recipientes também tem uma inovação, que é o espumante de vinho no barril mesmo de chope, o barril PET descartável de 20 ou 30 litros — conta o empresário.
Água também em lata
Seguindo a linha da inovação, a Fruki Bebidas, empresa de Lajeado, no Vale do Taquari, e que tem um dos centros de distribuição em Farroupilha, trouxe no segundo semestre do ano passado a Água da Pedra em lata, incluindo opções saborizadas. O diretor-administrativo e de marketing, Julio Eggers, cita que a empresa está atenta ao mercado e ao desejo dos consumidores. No caso deste produto, uma das motivações é a preocupação do público com a saúde.
Eggers cita o relatório da Mordor Intelligence, que aponta que o mercado de bebidas saudáveis deve saltar de US$ 344,4 bilhões, em 2023, para US$ 408,8 bilhões, em 2024, sendo um dos segmentos de maior crescimento no planeta. Ao mesmo tempo, o diretor menciona o comportamento do consumidor e a oportunidade de mercado com a embalagem — que tem 36% do consumo do Brasil, segundo a Associação Brasileira de Alumínio (Abal).
— Na idealização da Água da Pedra saborizada, vimos a oportunidade de criar um produto pioneiro no mercado, cujos dados de volume de venda validaram a ideia, com superação das expectativas de comercialização e necessidade de aumento da produção — explica Eggers.
A Fruki tem uma linha diversa de produtos, como refrigerantes, sucos, energético e cerveja. Por isso, o uso da latinha, com vantagens mencionadas como a reciclagem e reaproveitamento do material, não modifica a estratégia com outras embalagens.
No caso do PET, Eggers cita que o investimento em tecnologia trouxe uma redução média de 22% no peso das garrafas em menos de 10 anos. A mudança não modifica a qualidade da embalagem e significou uma redução que se equivale a 42 milhões de garrafas no período.
— A garrafa PET é uma embalagem, democrática e que preserva as características do produto, o qual chega ao consumidor com preços acessíveis — define o diretor.
Ele lembra ainda que a cadeia de reciclagem do plástico é bem estabelecida e estruturada no Brasil.
Solução sustentável
A vinícola mais antiga em atividade no Brasil, a Salton, de Bento Gonçalves, viu mais uma oportunidade de sustentabilidade também nos recipientes. A partir de estudos desenvolvidos com a empresa fornecedora nos últimos anos, a vinícola buscou embalagens com um melhor resultado ambiental e sem perder o padrão de qualidade. Hoje, a Salton já consegue trabalhar com redução na quantidade de vidro, plástico e papelão nas embalagens.
No caso do vidro, são as garrafas aliviadas, que possuem menos vidro na composição. Em 2023, 17% do portfólio da Salton contou com a embalagem. A expectativa é que o uso suba para 20% neste ano. O plano é ter um aumento para 50% em cinco anos. O surgimento de embalagens como essa foi justamente pela preocupação com o meio-ambiente.
— A ideia surgiu quando a gente fez o mapeamento do inventário de gases de efeito estufa. Nós conseguimos identificar as fontes. Até porque o ganho econômico não é um ganho tão expressivo. Estamos falando de uma garrafa que pesa 450 miligramas e vai ser de 400. Não vai ser uma coisa extraordinária em termos de custo. Mas, o acumulado no processo quando a gente olha o custo, olha os aspectos de emissões e depois, posteriormente, na questão logística com o produto pronto, isso pesa — revela o diretor-presidente Mauricio Salton.
Além da redução de emissão de CO2 na fabricação, existe uma queda no transporte, já que a carga se torna mais leve. Seguindo essa linha, a vinícola também tem redução de plástico, como nas embalagens do conhaque Presidente, e também a redução de papelão, como em ajustes nas divisórias das caixas de embalagens de espumantes Salton, Séries by Salton e Classic. O ajuste no conhaque, em que o dosador de plástico foi retirado, trouxe uma redução de nove toneladas de plástico, enquanto que a do papelão bate 40 toneladas.
O próximo passo é seguir com os avanços de sustentabilidade também nas embalagens. A Salton está desenvolvendo um salva rótulos, que permitirá retirar mais divisórias de papelão das caixas, trazendo novas reduções.
— Estamos colocando uma leve testinha, sutil, em cima do rótulo. Fica um pequeno degrau. Isso faz com que a gente elimine de dentro da caixa as divisórias, que são de papelão ou por vezes de isopor. O que tem essa divisória de papelão hoje nas caixas é para evitar que as garrafas não atritem ou elas raspem o rótulo — descreve Salton.
As embalagens são seguras
Sendo latinha de alumínio, garrafa PET ou recipiente de vidro, o certo é que todas são seguras. Antes de chegarem às prateleiras, as embalagens passam por testes e verificações de qualidade e seguem normas técnicas que protegem o consumidor. Na Universidade de Caxias do Sul (UCS), há laboratórios que fazem testes nesse sentido para empresas. Entre eles, o Laboratório de Análises e Pesquisas em Alimentos (Lapa), que atua na verificação se pode haver migração de substâncias de utensílios domésticos para alimentos ou para água.
Para serem produzidos ou utilizados, esses produtos precisam respeitar as legislações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Há fiscalizações também do Inmetro. Alguns tipos de testes não são compulsórios, como explica a responsável técnico pelo laboratório, Aline Benedetti Bordin. Mesmo assim, para controle de qualidade, as empresas também buscam a verificação.
— No nosso laboratório, a gente verifica a migração de certos elementos dos utensílios, desses materiais que migram para o alimento, conforme as legislações da Anvisa. Então, a empresa só pode vender o material com esse certificado de análise, e tem um laudo também avaliativo, junto com um organismo certificador de produto. E a migração, quando não é compulsória, a empresa faz para controle de qualidade. Mas, alguns casos são envolvidos organismos certificadores de produto para avaliar junto com a legislação esses dados que a gente reporta do produto — detalha Aline.
Por exemplo, há normativas para produtos com material antiaderente, para poliméricos, metais, entre outros materiais. Os testes podem começar desde a matéria-prima, como explica a responsável pelo Lapa:
— A gente avalia desde a matéria-prima até o produto final. Então, eles estão projetando um material, querem produzir um material, mas querem ver se toda a matéria-prima selecionada está de acordo. Eles começam a avaliar a matéria-prima nesses tipos de análise e depois que injetou o produto pode ser que tenha uma mudança de comportamento, e aí eles fazem de novo a análise para ver se manteve. E depois começa a rodar a produção.
Com a experiência no laboratório, realizando os testes relacionados aos produtos e os materiais, pode-se concluir a segurança em que estão armazenadas as bebidas e até mesmo os alimentos.
— É seguro. Nós aqui na universidade estamos com essa análise desde 2017, creditados pela Cgcre (Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro). Nós não vemos material que migre e que apresente limites fora da legislação. Então, a produção é segura, o Brasil tem um comprometimento quanto a isso — destaca Aline.
FONTE: Jornal Pioneiro
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