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Greenwashing Olímpico? Riachuelo exagera atributos sustentáveis de uniformes

Postado 07/08/2024

Criticada por design, varejista também exagerou sobre o material reciclado usado em jaqueta que atletas vão desfilar em Paris

Além da polêmica sobre a estética dos uniformes olímpicos brasileiros, a Riachuelo também enfrenta questionamento de greenwashing por ter exagerado os atributos sustentáveis das peças

As redes sociais foram tomadas nos últimos dias por críticas ao visual – para alguns simples demais, para outros conservador e pouco representativo da rica cultura brasileira – dos uniformes fabricados pela Riachuelo que atletas brasileiros usarão durante o desfile de abertura dos Jogos Olímpicos, em Paris.

Gostos pessoais à parte, a varejista, parceira do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde 2020 e responsável também pelos trajes de viagem da delegação, foi alvo de uma crítica objetiva: a empresa teria feito greenwashing na divulgação da coleção.

O questionamento principal partiu da jornalista de moda, também especializada em sustentabilidade, Alexandra Farah, em um post publicado, no Instagram.

“Tudo começou porque eu escutei que essa jaqueta era muito sustentável, feita com 100% de fios reutilizados da fábrica, de resíduos”, diz ela no post. “Logo pensei: ‘Gente, isso é um marco na história da moda mundial!’”.

Farah, então, acionou suas fontes especializadas na fabricação de jeans, que logo confirmaram que não havia possibilidade de a informação ser verdadeira. Nenhuma indústria no mundo é capaz de produzir uma peça do tipo apenas com fibras reutilizadas. Em vez dos 100% de material reaproveitado, na realidade as jaquetas foram confeccionadas com 23% de fibras provenientes de aparas da fábrica de Natal da Riachuelo. “Não é um número pequeno, ao contrário, é bastante significativo”, diz Farah. “E deveria ser celebrado.” 

O problema foi o número inflado.

A informação errada sobre a matéria-prima da jaqueta – uma criação, segundo a Riachuelo, feita de maneira colaborativa pela empresa e o COB – foi divulgada em um post publicitário, ou publi, como são chamados os conteúdos de influenciadores digitais pagos por marcas, do consultor André Carvalhal.

Carvalhal, que se define como especialista em design para sustentabilidade, também fala de moda e é autor do perfil Carvalhando, no Instagram, onde divulga conteúdo sobre comportamento e sustentabilidade. O post alvo de polêmica, visto pela reportagem, foi apagado. Nele, que foi publicado simultaneamente pela própria Riachuelo, Carvalhal enaltecia as características sustentáveis da coleção, tendo ao fundo um vídeo institucional que mostrava as peças sendo fabricadas.

Procurado, Carvalhal não respondeu ao pedido de entrevista.

O reaproveitamento de aparas de tecido é resultado de um investimento de R$ 2 milhões da empresa, em parceria com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas, da USP), para a criação de uma nova fibra a partir de resíduos, reduzindo o uso de matérias-primas virgens. 

Segundo o relatório de sustentabilidade do Grupo Guararapes referente a 2023, o plano é que cerca de 3 mil toneladas de resíduos sejam reaproveitadas anualmente com a aplicação da nova tecnologia.

Além das aparas 

O exagero quanto à matéria-prima não parece ser o único problema na comunicação sobre as credenciais socioambientais da peça.

Segundo a Riachuelo, as jaquetas foram desenhadas para valorizar a biodiversidade brasileira. Elas trazem nas costas um grande bordado – uma arara, um tucano ou uma onça –, trabalho realizado por 80 bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, cidade a cerca de 300 km de Natal (RN). Há um impacto social positivo grande para este grupo de mulheres. Além de remuneradas, elas terão sua arte desfilando pelo rio Sena, em um evento de visibilidade mundial. Mas, diferentemente do que a empresa divulgou em abril, no lançamento oficial das peças, o bordado não foi “feito inteiramente à mão”. Em diversas fotos e vídeos publicados, as artesãs aparecem trabalhando em máquinas de costura.

O fato de serem peças comemorativas e únicas, bordadas uma a uma, foi a justificativa que a empresa deu para cobrar R$ 599,90 pelas jaquetas. Uma equivalente lisa, da mesma marca Pool, é vendida por cerca de R$ 170. Além da jaqueta, chinelos, bolsa, camisetas e moletons da coleção do COB estão à venda nas lojas da rede por todo o país.  

Outro dado inconsistente: a Riachuelo diz, em sua loja online, que as peças da cerimônia de abertura foram “lavadas sem água”. A informação contradiz o que foi divulgado na ocasião do lançamento: para a produção dos uniformes, foram adotadas medidas já executadas na cadeia produtiva da Riachuelo. Elas reduzem em até 70% a quantidade de água utilizada nos processos de lavagem, mas não a eliminam por completo. Uso excessivo de água e produtos químicos são substituídos por ozônio no processo, para desengomar, limpar e clarear o jeans com menor impacto hídrico.

Além da falta de transparência da empresa, Alexandra Farah também trouxe à tona em sua postagem o desligamento recente da diretora de sustentabilidade do Grupo Guararapes, controladora da Riachuelo. Valesca Magalhães, que comandou as iniciativas da varejista na área nos últimos cinco anos, foi demitida no início de junho.

“Minha jornada foi curta, mas consistente e sempre embasada em dados, resultados auditados e em evidências”, disse Magalhães à reportagem. Com sua saída, o controle da agenda ESG passou à diretora executiva de gente e sustentabilidade, Graziella Di Battista.

Leia abaixo a resposta da Riachuelo, que foi condensada.

“A Riachuelo reafirma a sustentabilidade como um pilar importantíssimo para o negócio e o seu compromisso com a transparência nas relações com clientes e parceiros.

No caso em questão, houve um desencontro de informações em um conteúdo publicado por um influenciador parceiro da marca. Foi apurado que o erro foi cometido de forma não intencional e, assim que identificado, o conteúdo equivocado foi retirado do ar.

A companhia tem uma sólida trajetória de trabalho em prol do tema no setor de moda nacional e conta com processos mais sustentáveis ao longo de toda a sua cadeia produtiva.

Além disso, a empresa divulga anualmente o seu relatório de sustentabilidade, que dá visibilidade para todas as iniciativas e compromissos na esfera ESG. Este é um documento público e pode ser consultado no site da empresa.

A Riachuelo, reforça, ainda, que o projeto co-criado com o COB tem o propósito de fomentar as raízes brasileiras por meio da moda. As bordadeiras de Timbaúba dos Batistas e costureiras do Pró-Sertão, programa do Sebrae que conta com o apoio do Instituto Riachuelo e tem o objetivo de transformar vidas, oferecendo oportunidade para muitas mulheres da região, são as grandes protagonistas dessa história: seus trabalhos refletem a tradição e habilidade artesanal do Brasil.”

FONTE: www.capitalreset.com

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