Crédito a fornecedores agora pode ter filtro ESG
Postado 21/03/2024
Não é raro que grandes empresas contratem de um banco uma linha de crédito para antecipar o pagamento aos seus fornecedores de produtos e serviços. A tradicional linha de crédito, conhecida pelo nome de risco sacado e que ajuda na gestão do fluxo de caixa de comprador e fornecedor, está passando por uma evolução no Citi: o banco decidiu levar os critérios ambientais, sociais e de governança para esse tipo de operação com a modalidade Supplier Finance ESG.
Em 2023, R$ 650 milhões do total oferecido via linhas de risco sacado foram atrelados a critérios ESG. Cinco companhias já contrataram o Supplier Finance ESG e um total de cinquenta fornecedores utilizou o serviço.
Para ter acesso à antecipação dos recebíveis, as empresas precisam comprovar o comprometimento com práticas ESG por meio da avaliação de uma certificadora. Boas notas nesses critérios podem se traduzir em taxas de desconto mais baixas, de forma que o valor pago pelo Citi ao fornecedor será maior em comparação com uma operação de risco sacado tradicional.
“Não fazemos restrição em relação a setores. O que importa é a empresa se adequar a práticas ESG e ser capaz de mensurá-las”, diz Adriano Milani, líder da área de Treasury and Trade Solutions do banco.
Tanto o Citi como as companhias que contratam o serviço para seus fornecedores veem essa modalidade do produto como uma forma de promover um ecossistema empresarial de práticas mais sustentáveis.
O Supplier Finance ESG também encaminha uma preocupação cada vez maior das empresas: que sua cadeia de fornecedores emita menos gases causadores do efeito estufa, garantindo condições de trabalho decente, promovendo diversidade no quadro de colaboradores, entre outras demandas.
“Reduzir as emissões de escopo 1 é obrigação. Agora as empresas têm que focar em escopo 2 e escopo 3. Esse programa acaba contribuindo para ambos, principalmente para o escopo 3, que é relativo à cadeia de valor”, diz Milani.
Os escopos 1, 2 e 3 são categorias usadas para classificar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de uma organização, definidos pelo Protocolo de Gases de Efeito Estufa (GHG Protocol). O escopo 1 refere-se às emissões diretas de GEE resultantes das atividades da organização. O escopo 2 abrange as emissões indiretas associadas ao uso de energia. Já o escopo 3 abarca as emissões indiretas que ocorrem ao longo do ciclo de vida dos produtos ou serviços da organização.
Uma das empresas que contratou o risco sacado sustentável do Citi foi a filial brasileira da indústria química alemã BASF, fabricante de insumos e soluções para produtos de diversas áreas, como limpeza, cuidados pessoais, agricultura, transporte e construção.
Em todos os ramos de atuação e departamentos internos, a BASF tem como balizador o fator sustentabilidade. A área de finanças viu no produto uma forma de estimular a sua cadeia a fazer o mesmo.
Daniela Carrizo da Fonseca, diretora de Tesouraria e Crédito & Cobrança da BASF na América do Sul, explica que, para ter acesso à antecipação, seus fornecedores precisam passar pelo crivo da análise de risco da EcoVadis, classificadora que avalia empresas de acordo com vários critérios ESG.
“Nosso objetivo com essas ações não é apenas reduzir as emissões de gases de efeito estufa da cadeia, mas estimular mudanças por vários ângulos. Nossos fornecedores precisam ser consistentes, tratar bem colaboradores e colaboradoras, trabalhar pela inclusão deles, além de seguir as regras ambientais”, diz Fonseca.
Milani diz que os recebíveis são avaliados caso a caso, e que notas mais altas em práticas ESG podem contribuir para que a taxa de desconto cobrada na operação seja ainda mais competitiva.
O papel das instituições financeiras na redução de emissões de gases de efeito estufa e na indução de melhores práticas ambientais e sociais costuma ser muito associado a linhas de crédito ou títulos de dívida para financiar projetos específicos com benefícios nessas frentes, ou operações de crédito atrelada a metas de sustentabilidade.
Agora, a chegada dos critérios ESG ao tradicional produto de risco sacado mostra que as finanças verdes podem avançar dentro dos bancos, modernizando produtos já consagrados.
FONTE: www.capitalreset.com.br
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