Afinal, os bioplásticos são uma solução ambiental ou falsa promessa?
Postado 27/11/2018
Para a berlinense Josefine Staats, a alga vermelha Kappaphycus pode ser um verdadeiro redentor ambiental – pelo menos quando se trata de plástico.
"As algas não precisam de solo para crescer. Não precisam de fertilizantes ou pesticidas e crescem rapidamente", diz a empresária berlinense. Staats administra uma empresa de alimentos naturais e quer transformar as algas marinhas em bioplástico.
A vantagem é que o bioplástico feito de algas teria a mesma aparência do comum sem ser feito à base de petróleo e seria biodegradável, explica Staats. E não é a primeira pessoa a promover a ideia de plásticos à base de algas num momento em que alternativas adequadas aos plásticos convencionais são urgentemente necessárias.
Grande parte das mais de 300 milhões de toneladas do material à base de petróleo produzido a cada ano acaba poluindo o meio ambiente. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a quantidade de petróleo usada para produzir todo esse plástico aumentará de 12 milhões de barris por ano, em 2017, para 18 milhões de barris anuais, até 2050.
A questão se os bioplásticos são realmente uma solução viável é, no entanto, motivo de debate. Eles não são automaticamente melhores para o meio ambiente ou para o clima do que seus homólogos à base de petróleo, dizem especialistas.
"Certamente há produtos em que o plástico biodegradável faz sentido", afirma Franziska Krüger, do Departamento Federal do Meio Ambiente (UBA) da Alemanha, acrescentando, no entanto, que não se deve "maquiá-lo de ecoeficiente".
Por exemplo, só porque uma bolsa é feita bioplástico não significa que não acabe flutuando no oceano. Dependendo do material de que ela seja feita, a bolsa pode ser facilmente compostável em casa, biodegradável apenas sob as condições certas, ou pode até mesmo se decompor tão lentamente quanto os plásticos tradicionais – alguns dos quais podem levar até 600 anos para se degradar.
Além disso, culturas como milho e cana-de-açúcar, usadas para a produção de bioplásticos, exigem grandes quantidades de terra e fertilizantes, o que pode danificar o solo e resultar em menos área disponível para o cultivo de alimentos.
Poliéster produzido por bactérias
Lenka Mynarova foi nomeada a empreendedora do ano de 2018 em seu país de origem, a República Tcheca. Ela planeja reutilizar o óleo de cozinha, transformando-o em bioplástico com a ajuda de bactérias produtoras de PHA, ou polihidroxialcanoatos – poliésteres produzidos por bactérias.
Ela explica que seu produto não vai comprometer áreas cultiváveis. "Não estamos cooperando com nenhum produtor de óleo de palma. Não estamos desperdiçando nenhuma terra, só estamos usando lixo", afirma.
Porém, ninguém pode dizer com certeza como o plástico à base de resíduos orgânicos irá reagir no meio ambiente. Não há estudos aprofundados, explica Krüger, da UBA.
"Não há nenhuma garantia de que esse bioplástico se degrade completamente na natureza ou na pilha de compostagem da mesma forma que no laboratório, onde os pesquisadores podem controlar as condições ambientais", disse Krüger.
Atualmente, empresas de reciclagem e autoridades locais não têm meios para processar muitos bioplásticos, que possuem propriedades diferentes e exigem diferentes métodos de descarte. Muitos deles acabam sendo incinerados.
"A maioria dos bioplásticos não se deixa compostar", afirma Krüger, acrescentando que a maioria das instalações de compostagem rotula os bioplásticos como um material "contaminante". É por isso que produtos como sacos de lixo orgânicos feitos de plástico compostável ainda não são uma solução real.
E, até agora, o setor de reciclagem recebeu pouco incentivo para investir em processos para tratar a quantidade relativamente pequena de bioplástico que se encontra realmente em circulação. "O esforço tem que compensar", aponta Krüger.
Pequenos passos
Em 2017, foram produzidos 2 milhões de toneladas de bioplástico, segundo o grupo industrial European Bioplastic, com sede em Berlim. Essa cifra deve aumentar para 2,4 milhões de toneladas até 2022.
Especialistas dizem que, para o setor de bioplásticos realmente decolar, o petróleo bruto deve ficar mais caro. Nos últimos meses, os preços variaram, atingindo recentemente o valor mais alto dos últimos quatro anos, antes de cair novamente.
"Os produtores de plásticos deveriam procurar alternativas", aponta Michael Thielen, consultor de relações públicas e editor da revista Bioplastics Magazine.
Empreendedores como Staats querem estar preparados com suas alternativas de algas quando empresas vierem bater à sua porta. A berlinense também espera que sua startup se expanda com um projeto de desenvolvimento no Sri Lanka. Ela planeja apoiar pescadoras – muitas delas perderam seus maridos na guerra civil entre 1983 e 2009 – a cultivar algas organicamente.
Vai levar algum tempo até que ela consiga comercializar o seu primeiro produto – embalagens de bioplástico para a empresa de alimentos naturais que ela já administra.
"A tecnologia para a produção de bioplástico à base de algas já existe, mas ainda não está totalmente desenvolvida", explica Staats.
Atualmente, ela está tentando levantar 1 milhão de euros em capital inicial e procurando um laboratório e cientistas com quem possa trabalhar. "Assim, podemos pelo menos começar."
Fonte: Deutsche Welle
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