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AFINAL, DE ONDE VÊM AS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA NO BRASIL?

Postado 13/10/2021

Via desmatamento ou pela fermentação entérica dos animais, a pecuária puxa a fila dos vilões locais do aquecimento global

Na corrida para conter a emergência climática, o debate global tem se concentrado na  substituição de fontes de energia sujas, como carvão e petróleo, por limpas, como solar e eólica. 

Mas, enquanto ocupa a posição de sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo ao mesmo tempo em que apresenta uma matriz energética majoritariamente limpa, o Brasil tem seus próprios vilões do aquecimento global.

A falta de conhecimento e debate a respeito de quais são as principais fontes de emissões brasileiras turva o caminho para que se busquem soluções para a realidade local.

Afinal, em um país que minimiza o uso do carvão, de onde vêm as emissões brasileiras de gases de efeito estufa? 

Emissões por setores

Dados de 2019 mostram de onde vieram as emissões de gases do efeito estufa no Brasil


1. Mudanças do uso da terra e desmatamento

Quase metade dos gases de efeito estufa que o Brasil joga na atmosfera são provenientes do que os pesquisadores chamam de “mudanças no uso da terra”. 

Em 2019, essa categoria respondeu por 44% do total das emissões brasileiras, algo em torno de quase 1 bilhão de toneladas, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima que realiza levantamentos anuais a partir de dados de relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.

As tais ‘mudanças no uso da terra’ nada mais são do que a retirada da vegetação nativa e a exploração de recursos naturais. O processo de desmatamento e degradação florestal gera a decomposição da matéria orgânica do solo, aumentando as emissões de gases do efeito estufa.

O percentual brasileiro é alarmante porque supera em muito a média global. Em 2018, segundo o Climate Watch, apenas 6,5% das emissões globais foram resultantes de mudanças do uso da terra. 

O número também é alto porque é preciso levar em conta que a floresta amazônica tem 5 milhões de quilômetros quadrados e representa 67% das florestas tropicais do mundo, levando em consideração apenas a Amazônia Legal.

“Os grandes vilões são os desmatamentos e as queimadas. Esse tipo de emissão dobrou na última década”, diz Gustavo Pinheiro, coordenador do portfólio de economia de baixo carbono do Instituto Clima e Sociedade, o ICS.

Boa parte tem como destino a pecuária: operações de grilagem, ocupação de terra e as queimadas de madeiras têm como objetivo  transformar regiões em pastos de baixa qualidade após o desmatamento.

Segundo o instituto Imazon, o desmatamento da Amazônia cresceu 51% entre agosto de 2020 e junho de 2021, com mais de 8 mil km² de área verde devastada. Foi o maior índice de desmatamento em uma década. Somente em junho deste ano, de acordo com o Inpe, a Amazônia perdeu mais de 1 mil km² de floresta nativa.

Políticas de zerar o desmatamento ou de “desmatamento net-zero”, em que a mudança no uso da terra pode ser compensada com o replantio de árvores em outro local, podem auxiliar na mudança desses números atuais, dizem os especialistas. O problema é que isso não está sendo feito como deveria.

No Acordo de Paris, firmado em 2015, o Brasil se comprometeu a reduzir o desflorestamento para reduzir em 37% as emissões de gases até 2025, o que significaria emitir 1,2 bilhão de toneladas. No entanto, o governo brasileiro afrouxou a meta no fim do ano passado, colocando como objetivo limitar as emissões em 1,7 bilhão de toneladas.

Segundo uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Minas Gerais, a nova meta permite que o país desmate até 13,4 mil km² por ano até 2025, quase o dobro do limite anterior, que era de 7,4 mil km².

2. Agropecuária (os puns e arrotos do boi)

As mudanças no uso da terra não englobam as atividades de agropecuária e, no Brasil, onde o PIB do agro é maiúsculo, essa é outra enorme fonte de emissões.

O segmento responde por 28% das emissões diretas de gases de efeito estufa. Foram quase 593 milhões de toneladas emitidas em 2019, com aumento de 1,1% em relação a 2018. Em 20 anos, o crescimento foi de 50% em relação aos 402 milhões de toneladas de gases emitidos em 1990. 

Aqui, de novo, a pecuária é um dos maiores focos de emissão: a maior parte dos gases de efeito estufa (61%) vem da chamada “fermentação entérica”, parte do processo digestivo dos animais.

Em outras palavras, são os gases (principalmente metano, dezena de vezes mais potente que o CO2) emitidos nos arrotos e nas flatulências de animais como vacas, cabras e ovelhas. Foram 366 milhões de toneladas de emissões de fermentação entérica só em 2019.

As operações de manejo de solo, que incluem as práticas de cultivo, cultura, correção e fertilização da terra, responderam por 192 milhões de toneladas das emissões de agropecuária, ou 32%.

O restante fica dividido entre o manejo de dejetos animais (3,9%), o cultivo de arroz (1,8%) e a queima de resíduos agrícolas (0,9%). O cultivo de arroz é contabilizado de forma separada de outras culturas porque a irrigação do grão gera um processo único de emissão de metano.

3. Energia: Transportes e Eletricidade

É apenas em terceiro lugar que aparece a matriz energética brasileira. 

O segmento foi responsável por 19% do bolo em 2019,contabilizando as emissões fugitivas (involuntárias e decorrentes de equipamentos sob pressão) e aquelas causadas pela queima de combustíveis derivados de petróleo, além de carvão mineral.

Apesar de não ocupar a liderança, o setor energético é um dos que mais preocupa especialistas por causa das taxas de crescimento. Entre 1990 e 2019, as emissões do setor de energia aumentaram 114%, fazendo com que sua participação no total quase dobrasse dos 10% registrados no início da década de 1990.

O setor é amplo e engloba desde a produção e o uso de combustíveis para áreas como transporte até a geração de eletricidade e o consumo energético industrial, residencial, comercial, público e agropecuário.

Nessa salada de emissões, as categorias que mais contribuem para lançar gases na atmosfera são os transportes e a geração de eletricidade.

Os modais de transporte de cargas e de passageiros foram responsáveis por 47% das emissões em 2019.

As fontes de geração de eletricidade vêm depois dos transportes dentro do setor de energia. 

A matriz energética brasileira é uma das mais renováveis do planeta, o que explica a falta de protagonismo do segmento na questão climática. De acordo com um estudo feito pela Empresa de Pesquisa Energética, 83% da geração de energia no Brasil em 2019 veio de fontes renováveis. A média global é de apenas 25%.

Matriz energética do Brasil

Eletricidade brasileira vem principalmente de fontes de energia renovável

Os números mostram que o histórico de emissões desta subcategoria é um dos que mais variou nos últimos anos. E isso deve-se, principalmente, à redução do uso de usinas termelétricas nos últimos anos.

Em 2019, a geração de eletricidade foi responsável por mais de 53 milhões de toneladas de gases emitidos na atmosfera, um aumento de 7% em relação a 2018. Por outro lado, houve redução de mais de 32% das 78,2 milhões de toneladas registradas em 2015.

O percentual, porém, pode voltar a aumentar nos próximos estudos por conta da crise hídrica que o país atravessa com o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. A geração de energia por termelétricas já bateu recordes diários em 2021. Em junho, a geração foi de 19,2 mil megawatts médios, superando os 15,8 mil MWmed registrados na crise energética de 2014.

4. Processos industriais e resíduos

Por último na cadeia brasileira de emissões estão as categorias que englobam os processos industriais e os resíduos.

A primeira responde por 99 milhões de toneladas de emissões, quase o dobro do registrado em 1990 e número que vem se mantendo estável na última década. Juntas, a produção de metais e de minerais responde por mais de 75 toneladas das emissões dos processos industriais. 

Emissões de hidrofluorcarbonetos (HFCs), indústria química, uso não energético de combustíveis, uso de solventes e uso de Hexafluoreto de enxofre (SF6) respondem pelo restante.

Já os resíduos representaram 4,4% do total em 2019. O número é quase três vezes maior do que em 1990. O lixo tem como destino aterros, lixões, tratamento biológico, incineração ou queima a céu aberto e tratamento doméstico ou industrial.

FONTE: CAPITALRESET.COM

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