5 PONTOS DO NOVO RELATÓRIO DO IPCC PARA ENTENDER A EMERGÊNCIA CLIMÁTICA
Postado 11/08/2021
Documento da ONU alerta para mudanças sem precedentes no clima e aponta para o papel “inequívoco e inquestionável” da influência humana no risco de colapso do planeta
O relatório divulgado em 09/08 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que, devido às ações humanas, o mundo está próximo do colapso climático. A situação é tão grave que muitas das mudanças observadas no clima não têm precedentes em milhares, senão centenas de milhares de anos, segundo o órgão da ONU.
O documento lidera uma série de três relatórios que serão publicados nos próximos meses e é a primeira grande revisão da ciência das mudanças climáticas desde 2013. O alerta ocorre antes da Conferência das Partes (COP26), que irá reunir em novembro líderes de 196 países em Glasgow, na Escócia, para tratar de saídas contra a crise climática.
Entenda a seguir alguns dos pontos levantados pelo relatório do IPCC:
1. A influência humana é “inequívoca e inquestionável”
Criado por 234 cientistas de 66 países, o estudo afirma que "é inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, os oceanos e a Terra". Segundo o IPCC, a humanidade foi responsável por esquentar o clima a uma taxa “sem precedentes” nos últimos 2 mil anos e provavelmente somos os maiores culpados pelo recuo global das geleiras desde a década de 1990.
António Guterres, secretário-geral da ONU, comenta em comunicado que o texto é nada menos do que "um código vermelho para a humanidade”. “Os alarmes são ensurdecedores e as evidências são irrefutáveis", reitera.
2. 1,07°C por nossa conta
Pela primeira vez, o IPCC quantificou a responsabilidade das ações humanas no aumento da temperatura na Terra. Além de provavelmente já termos elevado as médias em 1,07°C, os cientistas acreditam que um aumento de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais será alcançado até 2040 em todos os cenários possíveis. E mais: até o fim do século 21, o aquecimento global pode ultrapassar 2°C em relação ao período anterior a 1850.
Analisando o documento, o Observatório do Clima (OC) destaca que as concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, os três principais gases de efeito estufa na atmosfera, são as maiores em 800 mil anos, e as taxas atuais de CO2 não são vistas desde 2 milhões de anos atrás.
A única forma de evitar isso, segundo o relatório, seriam reduções rápidas e profundas nas emissões de gases do efeito estufa nas próximas décadas, senão as metas do Acordo de Paris, realizado de 2015, estarão fora de alcance. O tratado prevê a manutenção da temperatura média global neste século abaixo de 2ºC, sendo 1,5ºC o limite ideal.
3. Já vivemos mudanças extremas
Os últimos cinco anos foram os mais quentes já registrados desde 1850. Todas as regiões do planeta passam por eventos climáticos extremos como secas, incêndios florestais, chuvas fortes, ciclones tropicais, derretimento de geleiras e ondas de calor – essas que se tornaram mais frequentes e intensas desde a década de 1950.
O ciclo da água também foi afetado, alterando os padrões de precipitações e causando inundações. Nas altas latitudes, os volumes de chuva poderão aumentar daqui para frente, enquanto nas regiões subtropicais haverá uma diminuição dos mesmos. Já eventos de aumento do nível do mar, que anteriormente ocorriam uma vez a cada 100 anos, poderão ocorrer todos os anos até o final do século 21.
4. Planeta em degelo
Várias dos fenômenos citados no texto, como o aumento contínuo do nível do mar, são irremediáveis. O Ártico, por exemplo, deve ficar praticamente sem gelo no pico do verão (em setembro) pelo menos uma vez antes de 2050, em todos os cenários avaliados pelo IPCC.
As geleiras continuarão perdendo massa durante décadas mesmo se a temperatura global for estabilizada. Os mantos de gelo da Antártida e da Groenlândia também continuarão a perder massa neste século.
O Observatório do Clima observa que o nível do mar subiu 20 centímetros entre 1901 e 2018. A taxa de elevação saltou de 1,35 milímetro por ano entre 1901 e 1990 para 3,7 milímetros por ano entre 2006 e 2018. Desde 1900, o nível dos oceanos subiu mais rápido do que em qualquer outro período nos últimos 3 mil anos.
Na visão do OC, as constatações do IPCC não são alarmistas — ao contrário. "Como reflete o consenso científico e os estudos mais aceitos da literatura, o IPCC tende a ser bastante conservador em seus relatórios, e mais conservador ainda em seus sumários para tomadores de decisão", avalia a entidade.
5. Apesar de tudo, há esperança
As projeções futuras sobre o aquecimento do planeta e futuras catástrofes são mais evidentes do que nunca no documento. Porém, isso não significa que esforços atuais para atenuar a crise climática não devam ocorrer.
Reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa poderá melhorar a qualidade do ar e, de 20 a 30 anos, as temperaturas globais poderiam se estabilizar, de acordo com os especialistas.
Se as emissões globais caírem pela metade até 2030 e chegarem ao zero líquido em meados deste século, isto é, se alcançarem o mais próximo possível de zero e a poluição existente for equilibrada por remoção de carbono, será possível reverter o aumento de temperaturas.
“A estabilização do clima exigirá reduções fortes, rápidas e contínuas nas emissões de gases de efeito estufa, alcançando emissões líquidas zero de CO2", comenta Panmao Zhai, copresidente do grupo de trabalho do IPCC responsável pelo relatório, em comunicado. "Limitar outros gases de efeito estufa e poluentes do ar, especialmente o metano, pode trazer benefícios tanto para a saúde quanto para o clima”, acrescenta.
FONTE: Revista Galileu
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