Glob Engenharia Ambiental - Mais da metade dos rios do Brasil está sob 'pressão' e com vazão em risco, aponta estudo sobre nível de poços

Mais da metade dos rios do Brasil está sob 'pressão' e com vazão em risco, aponta estudo sobre nível de poços

Postado 28/02/2025

Resumo do Estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP) , FAPESP e pesquisadores do exterior. 

Potencial generalizado de fuga de fluxos de rios em todo o Brasil

Esta pesquisa analisa como as interações entre rios e aquíferos afetam a disponibilidade de água em todo o Brasil. Ele destaca alguns pontos-chave: Cerca de 55% dos poços analisados estão abaixo dos níveis dos rios próximos, sugerindo que a água desses rios provavelmente está se infiltrando nos aquíferos. Esse fenômeno de "perder" rios pode ter implicações para o acesso global à água e ecossistemas que dependem dos rios.

O estudo busca compreender a extensão desses fenômenos e suas consequências para a segurança hídrica nacional.

Comparação das elevações do nível do poço e da superfície do córrego 

Principais pontos mostrados no Estudo

Os principais pontos mostrados no estudo foram:

- O fenômeno é mais intenso em regiões de clima semiárido e em áreas de intensa atividade agrícola, como a Bacia do Rio São Francisco.

Poços para irrigação agrícola ou consumo privado são os principais motivos

- A modelagem utilizada sugere que a perda de água superficial pode impactar ecossistemas aquáticos e reduzir a disponibilidade hídrica para uso humano e agropecuário.

- Este estudo analisa os níveis de água em 17.972 poços em todo o Brasil e descobre que 55% deles se encontram abaixo das superfícies dos cursos de água próximos, indicando o potencial generalizado de perdas de água dos cursos de água para os aquíferos subjacentes.

- A pesquisa ressalta a importância da gestão conjunta de águas subterrâneas e superficiais devido ao risco de perdas de fluxo, o que poderia impactar o acesso global à água e os ecossistemas.

- As observações diretas realçam a necessidade de compreender as interações rio-aquífero para uma gestão eficaz dos recursos hídricos, especialmente à luz das alterações climáticas e do aumento da utilização das águas subterrâneas.

Quais são as consequências potenciais das perdas de fluxo nos ecossistemas locais?

As consequências potenciais das perdas de fluxo para os aquíferos nos ecossistemas locais incluem:

- Redução da disponibilidade hídrica: à medida que os riachos perdem água para os aquíferos subjacentes, verifica-se uma diminuição da disponibilidade hídrica superficial, o que pode conduzir a níveis mais baixos de água nos rios e lagos. Esta redução pode afetar negativamente os habitats aquáticos e as espécies que deles dependem.

- Dinâmica dos ecossistemas alterada: a perda de rios pode levar a alterações no equilíbrio ecológico destes ambientes. A redução do fluxo de água pode afetar a desova dos peixes, o transporte de nutrientes e a dinâmica dos sedimentos, o que pode alterar a composição e a saúde dos ecossistemas aquáticos. Aumento dos riscos de contaminação: quando as águas superficiais, que podem transportar poluentes, se infiltram nos aquíferos, existe um potencial de contaminação das águas subterrâneas. Este risco é agravado pelas práticas agrícolas que contribuem com fertilizantes e outros produtos químicos para os riachos próximos.

- Impacto na biodiversidade: o declínio da vazão pode ameaçar espécies que dependem de condições específicas de fluxo para reprodução, alimentação e migração. Por exemplo, as espécies de peixes nos rios podem ter dificuldades para sobreviver com a diminuição do habitat e a alteração da dinâmica dos rios.

- Desafios para a segurança alimentar: os efeitos combinados da redução do fluxo e da diminuição dos níveis das águas subterrâneas podem representar riscos para a agricultura, impactando a irrigação das culturas e, consequentemente, a segurança alimentar global. Isto é particularmente pertinente em regiões fortemente dependentes de águas superficiais para irrigação. De um modo geral, a interação entre as águas subterrâneas e as águas superficiais é crucial para manter a saúde e a integridade dos ecossistemas locais, e qualquer perda de fluxo pode ter consequências de longo alcance.

Como se pode conseguir uma gestão eficaz das águas subterrâneas e superficiais à luz destas conclusões?

A gestão eficaz das águas subterrâneas e superficiais, à luz das conclusões relativas às perdas de escoamento, pode ser conseguida através de várias estratégias:

- Gestão integrada dos Recursos Hídricos (GIRH): é crucial implementar uma abordagem de gestão abrangente que considere a interligação dos sistemas de águas subterrâneas e de águas superficiais. Isso envolve a colaboração entre várias partes interessadas, incluindo agências governamentais, comunidades locais e organizações ambientais, para criar planos de gestão sustentável da água que levem em consideração ambos os recursos.

- Monitorização e recolha de dados: o estabelecimento de programas de monitorização extensivos para controlar os níveis de água nos rios e nos aquíferos pode fornecer dados valiosos sobre o estado dos recursos hídricos. A utilização de dados de grandes amostras e de tecnologias de sensoriamento remoto pode melhorar a compreensão das interações rio-aquífero, permitindo uma tomada de decisão mais informada.

- Regulamentação do uso da água: a implementação de regulamentos que controlam a extração de águas subterrâneas e a utilização de águas superficiais pode ajudar a proteger esses recursos vitais. Tal pode incluir a fixação de limites para a bombagem de águas subterrâneas em zonas onde os rios estão a perder água para os aquíferos, garantindo assim que ambos os sistemas de água se mantenham sustentáveis ao longo do tempo.

- Recuperação e proteção das Bacias Hidrográficas: as iniciativas destinadas a restabelecer as zonas ribeirinhas e a proteger as bacias hidrográficas podem melhorar a saúde dos sistemas fluviais e aquíferos. Isso pode incluir o plantio de vegetação nativa ao longo das margens dos rios, a redução do escoamento agrícola e a melhoria das práticas de uso da terra para minimizar a erosão e a poluição.

- Práticas de gestão adaptativa: é essencial adoptar estratégias de gestão flexíveis que possam ser ajustadas com base nas alterações das condições climáticas e na disponibilidade de água. Esta abordagem adaptativa permite uma avaliação e modificação contínuas das práticas de gestão da água em resposta a novos dados e desafios emergentes.

- Sensibilização e educação do público: aumentar a consciencialização sobre a importância das interações rio-aquífero e as consequências da extração excessiva pode promover melhores práticas comunitárias e apoiar políticas de gestão sustentável da água. Educar o público pode levar a uma maior defesa do uso responsável da água e dos esforços de conservação. No geral, uma abordagem multifacetada que incorpore ciência, regulamentação, envolvimento da comunidade e estratégias adaptativas pode melhorar significativamente a gestão dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais face a potenciais perdas de fluxo.

Análise Crítica e Alertas Urgentes para toda População

Os resultados evidenciam a importância da gestão conjunta de águas superficiais e subterrâneas no Brasil. O risco de infiltração dos rios nos aquíferos pode comprometer a disponibilidade hídrica em várias regiões, especialmente aquelas com alto consumo de água para irrigação. A adoção de políticas públicas voltadas para a conservação e o monitoramento hídricos é essencial para minimizar os impactos negativos do fenômeno.

As regiões mais afetadas incluem a bacia do rio São Francisco e a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde a dependência da água subterrânea para irrigação e abastecimento humano é elevada. O estudo aponta que 61% dos rios na bacia do São Francisco e 74% na bacia do Verde Grande apresentam perda significativa de fluxo. Outro fator preocupante foi a vulnerabilidade mostrada na pesquisa para o Cerrado, bioma essencial para a segurança hídrica do país, especialmente devido à expansão agrícola e ao aumento da demanda por irrigação.

É necessário um aumento urgente da fiscalização da perfuração indiscriminada de poços que é um fator crítico. Estima-se que, em 2021, existiam 2,5 milhões de poços tubulares no Brasil, dos quais mais de 88% eram ilegais.

O consumo consciente precisa ser cobrado, pois o uso excessivo de água subterrânea compromete a vazão dos rios, afeta os ecossistemas aquáticos e pode levar à subsidência do solo, como já observado na Índia e na Califórnia.

Outro fator preocupante foi a vulnerabilidade mostrada na pesquisa para o Cerrado, bioma essencial para a segurança hídrica do país, especialmente devido à expansão agrícola e ao aumento da demanda por irrigação.

A pesquisa reforça a urgência da educação ambiental para o consumo consciente, a necessidade de investimentos em monitoramento hidrogeológico e políticas públicas para a gestão sustentável dos recursos hídricos. O Brasil, embora detenha 15% da água doce renovável do mundo, enfrenta desafios crescentes devido à exploração excessiva de seus recursos. Soluções tecnológicas, como sensoriamento remoto e planejamento integrado, podem ajudar a mitigar os impactos identificados. 

Fontes: https://www.linkedin.com/pulse/copy-mais-da-metade-dos-rios-do-brasil-est%C3%A1-sob-press%C3%A3o-daiane-porto-jjbwf/

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