Banco Mundial lança bonds inovadores para reflorestar a Amazônia
Postado 15/08/2024
Parte do prêmio da emissão de US$ 225 milhões está atrelada às vendas de créditos de carbono da Mombak para Microsoft
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Restaurar florestas é caro, com custos entre R$ 20 mil e R$ 50 mil por hectare. Em mais um passo para tornar essa atividade economicamente viável e atrair o setor privado, o Banco Mundial está trazendo para o Brasil um novo instrumento das finanças sustentáveis que vai permitir o reflorestamento de áreas degradadas na Amazônia.
O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), que integra o Grupo Banco Mundial, emitiu US$ 225 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) em títulos de dívida de 9 anos, com vencimento em julho de 2033.
A taxa de retorno será de pelo menos 1,745% ao ano, garantida pela instituição, mas pode ter um incremento de até 4,362%.
A parcela variável está atrelada à concretização da venda de créditos de remoção de carbono pela Mombak à Microsoft, já pré-acordada no fim do ano passado. A startup é uma das que tentam transformar a restauração de áreas degradadas em um negócio de grande escala.
“O Banco Mundial encontrou uma forma de permitir que conseguíssemos acessar um pool de investidores a que normalmente não teríamos acesso, e com um instrumento financeiro, a dívida, que é mais barato que o capital que temos hoje”, diz Gabriel Haddad Silva, cofundador e CFO da Mombak.
Estruturada pelo HSBC, a operação “é genial, criativa, mas complexa”, afirma o executivo, que não encontra paralelos no mercado tradicional de dívidas.
O BIRD fez sua emissão com “outcome bonds” – títulos de resultado, na tradução literal –, instrumento que criou em 2021. Esta é a quinta e maior operação desse tipo feita pelo banco e a primeira atrelada a créditos de remoção de carbono.
A Mombak, sediada no Brasil, vai receber até US$ 36 milhões, através do HSBC, para a execução de seus projetos. A expectativa é que haja 11 desembolsos entre 20 de agosto, quando a operação será liquidada, e o final de 2026, à medida que ocorram a aquisição de terras e o plantio nas áreas.
Para receber esses valores, a empresa terá que atender metas mínimas de hectares reflorestados, toneladas de carbono removido do ar e receita – os “outcomes”.
“Estamos super confortáveis em atingir as metas para os outcome bonds, porque as nossas metas internas como empresa vão muito além disso”, afirma o CFO.
‘Outcome bonds’
Antes da estreia no Brasil, os ‘outcome bonds’ já tinham sido usados em emissões do BIRD para financiar a conservação de rinocerontes na África do Sul, a resposta do Unicef à covid-19 e a reciclagem de plástico na Indonésia e em Gana.
A ideia é que, de um lado, projetos e organizações com impactos sociais e ambientais positivos recebam capital antecipado para suas operações e possam compartilhar os riscos financeiros de seus projetos.
De outro, investidores tradicionais tenham um caminho para encarteirar títulos que normalmente não caberiam em seus portfólios tradicionais, com um nível de risco reduzido graças a garantias do banco e com a possibilidade de receber um “prêmio verde” caso o projeto desenvolvido seja bem sucedido.
“Os investidores querem projetos que vão dar retorno financeiro e ter impacto positivo, mas querem fazer isso com conforto, sem muito risco. Quando trazemos o Banco Mundial garantindo o principal [capital investido inicialmente] e boa parte do juros, possibilitamos isso”, diz Silva.
No ano passado, pela primeira vez, esses títulos foram atrelados à emissão de créditos de carbono em um projeto no Vietnã. Na captação, de US$ 50 milhões, o capital investido teve garantia de retorno pelo Banco Mundial, mas parte dos juros que seriam pagos periodicamente foram trocados por uma taxa variável atrelada à receita gerada por créditos de carbono – o “outcome” da operação.
Assim, US$ 7,2 milhões foram direcionados para um projeto que desenvolve e distribui purificadores de água em escolas e instituições vietnamitas, e que gera os créditos de carbono ao evitar a queima de biomassa para purificar a água.
Um dos principais desafios na emissão desses bonds é definir as métricas que serão utilizadas para dividir o risco e o prêmio dos projetos com os investidores. Dados confiáveis e uma governança robusta fazem parte dos atributos avaliados pelo banco.
Na Amazônia
No caso da operação para reflorestamento da Amazônia, a estrutura não vem do zero, lembra Silva. O modelo já testado pelo BIRD foi adaptado para incorporar as métricas e características dos projetos desenvolvidos pela Mombak e, pela primeira vez, atrelar o retorno dos títulos à remoção de carbono.
Os resultados específicos buscados não foram divulgados, mas a quantidade de créditos de carbono a ser vendida pela companhia – que está diretamente atrelada à restauração florestal – integra o megacontrato de 1,5 milhão de créditos acordados para a Microsoft.
Uma vez que os projetos forem iniciados, será possível medir a quantidade de carbono quatro ou cinco anos depois, certificar e vender os créditos, diz o executivo. A partir de então, a cada ano, uma nova certificação será feita com o incremento do carbono removido, até o vencimento do título.
A gestora americana Nuveen, que tem mais de US$ 1,1 trilhão sob gestão, foi quem liderou a compra dos títulos. A canadense Mackenzie Investments, fundos do grupo britânico Rathbones e o fundo de pensão dinamarquês Velliv também estão entre os investidores.
A princípio, nenhum deles está exposto à volatilidade do preço de créditos de carbono, já que os recursos pagos aos investidores são atrelados ao número de créditos gerados e monetizados pelo acordo de compra com a Microsoft, que tem preço pré-estabelecido.
O retorno aos investidores pode, no entanto, ser menor do que um título tradicional emitido pelo BIRD caso Mombak ou Microsoft não cumpram com suas atribuições no contrato acordado, ou o HSBC falhe com suas obrigações na transação.
Além da preocupação com o carbono, esses grandes alocadores de recursos trouxeram à mesa a preocupação com o impacto social e sobre a biodiversidade que os projetos teriam, diz Silva.
FONTE: www.capitalreset.com
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